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5 de março de 2009

Vingança caipira – Terrorismo no interiorrrrr

Não me orgulho de certas coisas que fiz no passado e o que contarei a seguir está nessa lista.
Na nossa rua havia uma penca de crianças que brincavam juntas todos os dias depois da aula (alguns até nos intervalos na escola) e nessa rua havia um trecho bem arborizado, que fazia aquela sombra gostosa que ajudava a caipirada a não torrar os pés descalços no asfalto quente, mas havia um porém, as belas árvores estavam plantadas na calçada da nossa arquiinimiga mor, a "Poderosa Chefona", que odiava a molecada brincando em frente da casa dela, embora o fato dela não gostar jamais tivesse nos impedido de brincar por lá, e por culpa da nossa teimosia e do mau humor dessa senhora, ela resolveu pegar pesado, mandou aparar os galhos das árvores (privando-se da sombra só para ver se isso nos espantava de lá), passou arame farpado em volta dos troncos das árvores e dos galhos de fácil alcance e não satisfeita, lambuzou tudo com graxa também. Se algum moleque não fosse mutilado com o arame farpado ao tentar subir na árvore, certamente cairia ao agarrar um galho besuntado de graxa.
A "Poderosa Chefona" deveria ser fã do Hitler (até alemã ela era!) e ter algum manual sobre como "proteger" seu bunker ou deveria ter participado da Segunda Guerra Mundial (fazendo o papel de canhão, lógico) e se inspirado nas técnicas de construção de trincheiras.
Nos sentimos totalmente injustiçados e também provocados. Ela mutilou as árvores, tirou nossa sombra sagrada e utilizou "armamento" pesado com intuito de ferir algum de nós.
Resolvemos que isso merecia vingança. Arquitetei um plano simples, porém maquiavélico. Ficamos até beeem mais tarde na rua, cortamos os arames farpados com alicate emprestado do pai de um caipirinhas e libertamos as árvores (Oi, Greenpeace! :-P ), aí utilizamos a própria graxa que a "Poderosa Chefona" besuntou nas árvores para deixar recados não muito educados nos muros da casa dela E nos degraus que davam saída do portão da casa para a calçada E na maçaneta do portão.
Fizemos isso porque sabíamos que a velhota tinha um ritual matinal, que consistia em sair pelo portão carregando seu "automóvel" (a vassoura) e uma lata grande para colocar a sujeira, descer os degraus e varrer a calçada todos os dias, bem cedinho, antes de irmos para a escola.
Na manhã seguinte ao ato de "terrorismo", todos levantaram-se mais cedo do que o de costume, tomaram café e foram para a casa do caipirinha da "gangue" que morava em frente à casa da "Chefona" para assistir o tombaço de camarote, vê-la de pernas pro ar, com vassoura e lata voando e caindo de preferência em cima dela.
Sim, ela caiu, ficou de pernas pro ar, com o vestido arriado nos dando uma pequena visão do inferno, mas ela não quebrou nadinha (vaso ruim não quebra, comprovamos nesse dia), deve ter ficado uns dias com a buzanfa bem dolorida (a sorte dela é que tinha aquele traseirão para amortecer a queda), xingou uns palavrões bem feios em alemão e depois que o velho dela recolheu-a do chão e levou-a para dentro da casa, fomos para a escola, todos rindo e comentando a queda.
Enquanto fazíamos isso, a "Chefona", provavelmente sentada num almofadão, ligava para os pais de cada terrorista reclamando e exigindo que nenhum moleque pisasse na calçada dela novamente. Acho que ela foi bem enfática e ameaçadora, porque minha mãe me deu uma senhora bronca e ordenou que eu passasse sempre do outro lado da rua, certamente temendo uma retaliação da velhota, tipo minas terrestres plantadas sob a calçada.

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15 de fevereiro de 2009

As origens

Sempre morei na roça, lááááááá no interiorrrrr do estado de São Paulo (interiorrrrr mesmo, não isso que paulistanos chamam de interiorrrrr, como Campinas ¬¬ ).
Nasci numa semi-aldeia indígena chamada Tupã e mudei-me para Jaú (Jaurrrrr para os caipiras) aos 7 anos, ainda um caipirinha metido a besta por ter saído de uma aldeia para uma roça maiorrrrr.
Nessa fase da vida e naqueeele tempo (ah, a crise dos 30...tsc) morarrrrr no interiorrrrr era uma maravilha. Todo mundo do bairro se conhecia, a molecada não saía da rua, jogando bola descalço (e os mais perrrrrna de pau, perrrrrdendo a “tampa” do dedão do pé ao errarrrrr a bola e chutarrrrr o asfalto com aquela fome de fazerrrrr o golaço), apostando corrida de carrinho de rolimã bem na hora da novela das seis (que as velhas da vizinhança não perdiam nem por decreto e por causa da barulheira das rodinhas no asfalto, ficavam ligando reclamando para os pais dos capirinhas delinquentes e com isso acabavam perdendo a maledetta novela de qualquer jeito, bem feito!), brincando de esconde-esconde, de pé-na-lata (outra brincadeira que rendia briga com a velharada, pois usávamos uma daquelas latas antigas de óleo de soja e caprichávamos no chutão, para fazer estrondo mesmo!), jogávamos bets e quando a bolinha caía em alguma das casas das velhinhas amáveis, já era, não devolviam e desconfio que rezavam para que isso acontecesse todo dia nas novenas que elas frequentavam, só para terem o prazer de acabar temporariamente com nosso divertimento, mas, tínhamos estoques dessas bolinhas (e geralmente eu me arriscava invadindo a casa de alguma dócil idosa para recuperar a bola e não dar aquele mínimo prazer para ela, e claro, garantir que o estoque de bolas nunca terminasse), também tínhamos as corridas de bicicleta (que incrementávamos com pedaços de potinho de yakult para fazer aquele barulho maneiro e azucrinar ainda mais as nossas arquiinimigas - inclusive, entre elas, havia a “Poderosa Chefona“, que rende posts divertidos para o futuro), os passeios para descobrir cachoeiras (escondidos das mães, é claro), as molecagens na escola (sempre estudei em escola pública, então calculem...) e haviam as brincadeiras mais divertidas e interessantes do nosso pequeno universo: os bailinhos, gato-mia (pelamorrrrrdeallah vou garantir que se eu tiver uma filha...óh Allah, se fizerem com ela o que eu já aprontei, irei conhecer seu velho ex-amigo Lúciferrrrr antes dos 40!!!!!), de médico (de novo Allah, pelamorrrrr!!!!!)...[E o engraçado foi que acabei me torrrrrnando enferrrrrmeiro (aliás, a história da minha escolha profissional rende outro post interessantíssimo!)] e muitas outras brincadeiras e campeonatos sazonais (sempre fui o campeão de bola de gude! *orrrrrgulho*) que faziam com que não sentíssemos falta de shoppings, Mcdonalds (claro que quando algum caipirinha tinha a sorrrrrte de irrrrr para a capitarrrrr e visitarrrrr esses lugares, quando voltava virava a celebridade do bairro porrrrr meses com suas fabulosas histórias e passeios) e mesmo tendo nossos Ataris e o cinema, o legal mesmo eram as coisas simples.
Pois é, não posso negarrrrr minhas origens (em minha defesa, juro que não carrego no sotaque desse jeito forrrrrçado aí do post), sou um caipira com orgúio, sô!

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